Isabel Lessard - Sede




Pela primeira vez em minha vida eu entendi o que era não ter para onde ir.

Foi a primeira vez que eu matei uma pessoa.
E a primeira vez que eu bebi o sangue de alguém.
Depois disso, eu passei dias vagando sem rumo, me escondendo pelos becos, caminhando para longe da cidade. Minhas roupas estavam fétidas por causa da mistura de sangue velho e lama. Minha pele branca estava encardida e meus cabelos negros encobriam quase completamente meu rosto.
Então eu encontrei a floresta onde me refugiei e vivi nela durante cinco anos como um animal selvagem, atacando qualquer coisa que se movesse.
Se na época eu ainda me lembrasse o que era contar, eu teria perdido as contas de quantos soldados morreram em minhas mãos tentando adentrar o território francês.
Diria até que eu merecia uma medalha de honra por isso, mas eu não tenho certeza se todas as vítimas eram inimigas.
Eu sentia raiva quando minha presa fugia. Sentia dor quando ela lutava e conseguia me ferir. Sentia desejo quando o cheiro de seu sangue sujo adentrava minhas narinas. Eu sentia a deliciosa sensação de saciedade quando o sangue fresco descia por minha garganta, enquanto o corpo sem vida de algum infeliz pendia imóvel em meus braços.
Eu não sabia mais o que era querer algo somente por vaidade. Não sabia o que era sentir pena, amor ou vontade de abraçar alguém.
Eu me tornei um animal selvagem porque vivia por instinto, porque todos os meus sentimentos estavam relacionados à sede.







Isabel Lessard - Início

07:56 Postado por Bell Moraes 0 comentários




Eu era a moça mais bela, a mais radiante, a mais inteligente e a que tinha a maior lista de pedidos de noivados de toda Paris.
Oui, eu tive meus bons momentos, mas é como dizem: “Tout ce qui est bon est de courte durée”.
Em uma noite qualquer, algo me despertou durante a madrugada.
Minha garganta estava seca e um desejo avassalado ardia dentro de mim.
Fui até a cozinha e bebi todo líquido que estava ao meu alcance, mas nada me satisfazia.
Minha cabeça doía e todo meu corpo tremia. Eu abri a porta e fui para as ruas, cega por um desejo que eu não conseguia entender.
Mas eu parei de pensar quando senti aquele cheiro: o cheiro do seu sangue.
De repente minha boca ficou úmida e meu corpo alerta.
Se o pecado tivesse um aroma, seria aquele: doce, metálico, quente e sensual.
Lancei-me sobre ela com a ferocidade de um tigre que ataca sua presa. Ela nem ao menos gritou ou lutou.
Eu senti o líquido descer espesso e cálido por minha garganta ressecada. O sabor era ainda melhor que o aroma. Eu sabia que não conseguiria parar até secar a fonte e foi o que aconteceu.
Aos pouco pude sentir seu peso morto em meus braços. Meus membros foram relaxando, minha mente aos poucos voltava a ser racional.
Foi então que pude ver seu corpo.
Uma menina com roupas esfarrapadas e sujas... tão pequena, tão frágil... e banhada em sangue.
Caí de joelhos sem saber o que fazer. Eu havia matado um criança.
Mas eu não tive tempo para remorso ou qualquer outro tipo de sentimento de culpa.Não tive muito tempo para pensar em nada.
De repente meu corpo foi tomado novamente, mas desta vez não pelo desejo, mas sim por uma dor que parecia queimar meus ossos e arrancar cada um de meus membros. O ar já não entrava nem saia dos meus pulmões.
Eu estava morrendo. Tinha que ser a morte, porque eu não poderia pensar em nada pior.
Resolvi que nada mais poderia fazer e, como último ato de desespero, clamei a Deus que tivesse misericórdia de minha alma (se é que eu ainda tinha uma) e perdoasse meus pecados.

Foi nessa hora que tudo ficou escuro.

Pimenta

Em homenagem a nós, mulheres, que deveríamos deixar nosso lado sexy aflorar, sem medo nem vergonha.



Preferível é não conhecer o desejo

Impossível de esquecer ao degustar teus lábios

Macios, carmesim e de sabor picante.

Esquenta meu corpo, ferve minha alma

Nada pode apagar esse rastro de teu inebriante

Toque de pimenta.

Ardente, sedenta, perversa! Teu codinome é “Mulher”.